sanções e aceitações
Em toda história europeia, houve quatro
formas de destaque do Protestantismo ascético, o Calvinismo, o Pietismo, o
Metodismo e as Seitas Batistas. O interesse de Weber se concentra “na
influência daquelas sanções psicológicas que, originadas na crença religiosa e
na prática da vida religiosa, orientavam a conduta e a ela prendiam o
indivíduo”. É em torno desta questão que gira a tese de Weber.
O Calvinismo: primeira fé a ser levada
em consideração, por ser determinante em muitas lutas em torno da religião e da
cultura nos países civilizados mais desenvolvidos do ponto de vista do
capitalismo (Holanda, Inglaterra e França) durante os séculos XVI e XVII. Seu
dogma característico é a predestinação, o mais essencial da Igreja reformada.
Para Weber, baseando sua ética na
doutrina da predestinação, os calvinistas substituíram a aristocracia
espiritual dos monges, alheia e superior ao mundo, pela aristocracia espiritual
dos predestinados santos de Deus, integrados no mundo. O destino dos homens a
Deus pertence, para além do entendimento humano, os condenados, ou os não
salvos podiam pertencer a Igreja, mas somente no sentido de submeter-se à sua
disciplina, para a glória de Deus, mas não podiam salvar-se. Neste sentido
existia a eliminação da salvação através da Igreja e dos sacramentos, esta era
a diferença central entre o calvinismo e o catolicismo.
O Pietismo: Segundo grupo protestante
abordado no livro. Historicamente, a ideia da predestinação constitui o ponto
de partida da direção ascética que se designa correntemente como
"pietismo". Este movimento se manteve somente dentro da Igreja
reformada, existem calvinistas pietistas e não-pietistas. Representantes mais
notáveis do puritanismo foram tidos como pietistas, portanto considera-se como
uma prolongação pietista a doutrina de Calvino, que tem por intenção a conexão
da ideia de comprovação da doutrina da predestinação. Associado a Philip
Spener, e caracterizado como “emocional”. No entendimento de Weber, o efeito
prático dos princípios pietistas foi um controle ainda mais estritamente
ascético da conduta na vocação, fornecendo uma base religiosa ainda mais sólida
para a ética vocacional do que a mera respeitabilidade laica dos cristãos
luteranos normais, considerados pelo pietismo como uma cristandade de segunda
classe.
O Pietismo acabou influenciando
funcionários, caixeiros, operários, empregados domésticos e o empregador
patriarcal condescendente. Por outro lado, o calvinismo estava mais relacionado
com a “ativa empresa dos empreendedores capitalistas burgueses”.
O Metodismo: É o pietismo continental
caracterizado pela união da religiosidade sentimental, com a crescente
indiferença e uma repulsa pelos fundamentos dogmáticos do asceticismo
calvinista. Consiste na "metodização" sistemática da conduta como
meio de alcançar a certitudo salutis,
é o que interessa em todos os momentos, em toda tendência religiosa. Então
alguém deste modo remido pode, em virtude da divina graça já trabalhando em seu
ser, obter, mesmo nesta vida, por uma segunda transformação espiritual,
geralmente separada e muitas vezes súbita, a “santificação”, a consciência da
perfeição, no sentido da libertação do pecado.
O ensinamento da regeneração do
metodismo criou um complemento para a sua doutrina das obras: “uma base
religiosa para a conduta ascética, depois do abandono da doutrina da
predestinação”. Mas, na prática, a influência desta tradição é limitada ao
desenvolvimento do sistema capitalista: no entendimento de Weber, “podemos
deixar de lado o metodismo como um produto tardio já que ele nada ajuntou d
novo ao desenvolvimento da idéia da vocação”.
Seitas Batistas: O quarto grupo estudado
é equivocadamente chamado de “batistas”. Na verdade, estas seitas estão ligadas
aos anabatistas associados a Menno Simons. Não uma igreja, mas uma seita. Com a
rejeita à doutrina reformada da predestinação, o caráter peculiarmente racional
da moralidade anabatista apoiou-se psicologicamente, acima de tudo, na ideia da
espera pela ação do espírito. Esta atitude significou um enfraquecimento da
concepção calvinista de vocação, mas, ao mesmo tempo, por outro lado, por
várias circunstancias, aumentava nas seitas anabatistas a intensidade do
interesse vocacional de caráter econômico. Eles se recusaram a aceitar funções
publicas originariamente de um dever religioso decorrente do repúdio de todas as
coisas mundanas, que, depois de abandonada como princípio, permaneceu ainda
efetiva na prática, pelo menos para os menonitas e para os quakers porque a
estrita recusa de pegar em armas e prestar juramentos constituía uma
desqualificação suficiente para o serviço público.
WEBER, Max. A Ética Protestante E O
Espírito Do Capitalismo,
São Paulo, Livraria Pioneira Editora.