terça-feira, 3 de dezembro de 2013

III - A Concepção de Vocação de Lutero; Tarefa da Investigação.

 


Neste capítulo de seu livro, Weber busca a raiz do sistema capitalista no conceito protestante de vocação. Em suas próprias palavras, “Não há dúvida de que já na palavra alemã “Beruf”, e, quem sabe, ainda mais, na palavra inglesa “calling”, existe uma conotação religiosa – a de tarefa ordenada, ou pelo menos sugerida por Deus – que se torna tanto mais manifesta, quanto maior for a ênfase do caso concreto.

A palavra profissão, que por diferentes línguas, carrega a ideia de uma missão imposta por Deus, não demorou a ser notada e com isso todos os povos protestantes adotaram seu significado atual, no sentido de vocação, dever, ofício, no sentido puramente profano.

Não é somente no sentido literal, mas também como ideia, é nova, é produto da Reforma. Nem na Antiguidade, nem na Idade Média a ideia do trabalho implicava na ideia de uma profissão, é novo seu conteúdo de conduta moral, como sentimento de um dever no cumprimento da tarefa profissional no mundo. Como consequência,  o sentido sagrado do trabalho é que origem ao conceito ético-religioso de profissão.

Em Lutero, esta ideia se desenrola durante os primeiros dez anos de sua atividade reformadora. Em princípio, seguindo a tradição medieval representada por São Tomás de Aquino, estimava que o trabalho no mundo, quando desejado por Deus, pertence à ordem da matéria sendo como um fundamento natural indispensável da vida religiosa, não suscetível de valoração ética.

Segundo Lutero, é evidente que somente a vida contemplativa carece de valor para justificar-se perante Deus, sendo produto de desamor egoísta, por isso é necessário submeter-se ao cumprimento de deveres que se precisa cumprir no mundo. Surge assim a ideia do trabalho profissional como manifestação palpável de amor ao próximo, onde o cumprimento das tarefas é o único caminho para satisfazer a Deus, e isto ocorre porque assim Deus quer, e que, portanto, toda a profissão permitida possua diante de Deus o mesmo valor.

WEBER, Max. A Ética Protestante E O Espírito Do Capitalismo,
São Paulo, Livraria Pioneira Editora.

IV - Fundamentos Religiosos do Ascetismo Laico.


sanções e aceitações 


Em toda história europeia, houve quatro formas de destaque do Protestantismo ascético, o Calvinismo, o Pietismo, o Metodismo e as Seitas Batistas. O interesse de Weber se concentra “na influência daquelas sanções psicológicas que, originadas na crença religiosa e na prática da vida religiosa, orientavam a conduta e a ela prendiam o indivíduo”. É em torno desta questão que gira a tese de Weber.

O Calvinismo: primeira fé a ser levada em consideração, por ser determinante em muitas lutas em torno da religião e da cultura nos países civilizados mais desenvolvidos do ponto de vista do capitalismo (Holanda, Inglaterra e França) durante os séculos XVI e XVII. Seu dogma característico é a predestinação, o mais essencial da Igreja reformada.

Para Weber, baseando sua ética na doutrina da predestinação, os calvinistas substituíram a aristocracia espiritual dos monges, alheia e superior ao mundo, pela aristocracia espiritual dos predestinados santos de Deus, integrados no mundo. O destino dos homens a Deus pertence, para além do entendimento humano, os condenados, ou os não salvos podiam pertencer a Igreja, mas somente no sentido de submeter-se à sua disciplina, para a glória de Deus, mas não podiam salvar-se. Neste sentido existia a eliminação da salvação através da Igreja e dos sacramentos, esta era a diferença central entre o calvinismo e o catolicismo.

O Pietismo: Segundo grupo protestante abordado no livro. Historicamente, a ideia da predestinação constitui o ponto de partida da direção ascética que se designa correntemente como "pietismo". Este movimento se manteve somente dentro da Igreja reformada, existem calvinistas pietistas e não-pietistas. Representantes mais notáveis do puritanismo foram tidos como pietistas, portanto considera-se como uma prolongação pietista a doutrina de Calvino, que tem por intenção a conexão da ideia de comprovação da doutrina da predestinação. Associado a Philip Spener, e caracterizado como “emocional”. No entendimento de Weber, o efeito prático dos princípios pietistas foi um controle ainda mais estritamente ascético da conduta na vocação, fornecendo uma base religiosa ainda mais sólida para a ética vocacional do que a mera respeitabilidade laica dos cristãos luteranos normais, considerados pelo pietismo como uma cristandade de segunda classe.

O Pietismo acabou influenciando funcionários, caixeiros, operários, empregados domésticos e o empregador patriarcal condescendente. Por outro lado, o calvinismo estava mais relacionado com a “ativa empresa dos empreendedores capitalistas burgueses”.

O Metodismo: É o pietismo continental caracterizado pela união da religiosidade sentimental, com a crescente indiferença e uma repulsa pelos fundamentos dogmáticos do asceticismo calvinista. Consiste na "metodização" sistemática da conduta como meio de alcançar a certitudo salutis, é o que interessa em todos os momentos, em toda tendência religiosa. Então alguém deste modo remido pode, em virtude da divina graça já trabalhando em seu ser, obter, mesmo nesta vida, por uma segunda transformação espiritual, geralmente separada e muitas vezes súbita, a “santificação”, a consciência da perfeição, no sentido da libertação do pecado.

O ensinamento da regeneração do metodismo criou um complemento para a sua doutrina das obras: “uma base religiosa para a conduta ascética, depois do abandono da doutrina da predestinação”. Mas, na prática, a influência desta tradição é limitada ao desenvolvimento do sistema capitalista: no entendimento de Weber, “podemos deixar de lado o metodismo como um produto tardio já que ele nada ajuntou d novo ao desenvolvimento da idéia da vocação”.

Seitas Batistas: O quarto grupo estudado é equivocadamente chamado de “batistas”. Na verdade, estas seitas estão ligadas aos anabatistas associados a Menno Simons. Não uma igreja, mas uma seita. Com a rejeita à doutrina reformada da predestinação, o caráter peculiarmente racional da moralidade anabatista apoiou-se psicologicamente, acima de tudo, na ideia da espera pela ação do espírito. Esta atitude significou um enfraquecimento da concepção calvinista de vocação, mas, ao mesmo tempo, por outro lado, por várias circunstancias, aumentava nas seitas anabatistas a intensidade do interesse vocacional de caráter econômico. Eles se recusaram a aceitar funções publicas originariamente de um dever religioso decorrente do repúdio de todas as coisas mundanas, que, depois de abandonada como princípio, permaneceu ainda efetiva na prática, pelo menos para os menonitas e para os quakers porque a estrita recusa de pegar em armas e prestar juramentos constituía uma desqualificação suficiente para o serviço público.

WEBER, Max. A Ética Protestante E O Espírito Do Capitalismo,
São Paulo, Livraria Pioneira Editora.

domingo, 1 de dezembro de 2013

V - A Ascese e o Espírito do Capitalismo

Richard Baxter


Weber fala que a vocação ascética reformada, conforme interpretada principalmente por Richard Baxter, não é, como no luteranismo, um destino ao qual cada um deva se submeter, mas um mandamento de Deus a todos, para que trabalhem para a glória de Deus.
O ascetismo se propôs transformar o mundo e quis se realizar no mundo, não é estranho, pois, que as riquezas deste mundo alcançassem um poder crescente e, em último termo, irresistível sobre os homens, como nunca se havia conhecido na história.
 
Para perceber as conexões das idéias religiosas do protestantismo ascético com as máximas da atividade econômica, deve-se recorrer aos escritos teológicos diretamente inspirados na prática da cura das almas; pois em uma época em que as preocupações sobre a outra vida era tudo, em que a admissão à comunhão dependia da posição social do cristianismo, e em que a ação do sacerdote exercia uma influência da qual apenas pode-se formar idéia sobre os homens de hoje, é evidente que as energias religiosas que operam nesta prática haviam de serem necessariamente os fatores decisivos na formação do "caráter popular".
 
WEBER, Max. A Ética Protestante E O Espírito Do Capitalismo,
São Paulo, Livraria Pioneira Editora.